Foto: Tiago Lima |
Por Moura Neto
Novo Jornal
Também tenho construído minha história pessoal sobre a areia e o vento. Talvez, por isso, calou-me fundo a dramaturgia de Luana Menezes, sob a direção de Luiz Fernando Marques, interpretada em praça pública pelos coletivos Atores à Deriva e Bololo Cia Cênica dentro da programação do Natal em Natal.
A encenação da Encruzilhada do Mundo pode até ter fugido do enredo natalino que geralmente caracteriza os espetáculos do final do ano, mas deixa uma mensagem que condiz com a renovação dos propósitos de vida e dos valores imateriais cultuada nesta época: acreditar nos sonhos, no mundo de paz e prosperidade social.
Sobre a areia e o vento, subtítulo da peça, também tenho construído meus sonhos, duradouros como os castelos de areia que o vento açoita à beira-mar. Todos os dias me dedico ao trabalho de refazer sonhos desfeitos, árduo como o de um mecânico que remonta a aeronave que se partiu no ar.
A propósito, sobre as dunas do litoral norte, da aurora ao pôr do sol, venho levantando, diuturnamente, o meu próprio hangar. Reside aqui, neste simbolismo, o desejo inabalável de alçar voo para desbravar novos horizontes do espírito, tornando-me, por necessidade existencial, um explorador de mim mesmo e da alma humana.
Feliz a ideia de homenagear o aeronauta Augusto Severo de Albuquerque Maranhão, a quem reputo como um dos conterrâneos mais ilustres que a terra de Poty viu nascer, ao lado de contemporâneos dele como o padre João Maria e a poetisa Auta de Souza.
O menino que costumava soltar pipa nos morros do seu burgo teve a audácia de transformar quimeras em realidade, construindo um balão dirigível com o qual navegou em torno da Torre Eiffel, em Paris, levando às alturas, com a engenhosidade de seu invento, o nome da sua terra e da sua pátria.
Na encruzilhada do mundo, onde firmo os meus passos e faço morada temporária, também tenho escrito poemas e cartas de amor que jamais chegam aos destinatários. Escritos sem palavras, só com sentimentos. Palavras se perdem ao vento e formam eco distante, enquanto os sentimentos criam raízes e prosperam, distribuindo sombra e água fresca aos andarilhos do deserto como um oásis providencial.
Sobre as dunas da praia também venero os meus amores. Os do presente e os do passado, porque a todos ofereço sincera gratidão pelos momentos que compartilhamos nesta vida e pelo aprendizado mútuo que conquistamos.
A Encruzilhada do mundo – sobre a areia e o vento – é um espetáculo que louva Natal, sua história, seus bairros e sua gente, selecionado por edital, iniciativa inédita da Fundação Cultural Capitania das Artes que mereceu aplauso na classe artística, habituada a ser aplaudida, e que será reprisado – o espetáculo – neste final de semana. PS: ao contrário do talentoso elenco, nunca aprendi a construir aviãozinho de papel.
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